terça-feira, 10 de julho de 2012

OPINIÃO DE SAPIR


A ANÁLISE SOBRE A NECESSIDADE DE UMA LÍNGUA INTERNACIONAL PELO LINGÜISTA EDWARD SAPIR
    O lingüista norte-americano Edward Sapir (1884-1939) foi o iniciador, na lingüística norte-americana, do movimento estruturalista. A sua importância e a repercussão de suas idéias crescem cada vez mais. Veja o que Sapir afirmou sobre a necessidade de uma língua auxiliar internacional: Sapir afirma que “pouca divergência há sobre a vantagem de uma língua auxiliar internacional e aponta duas considerações:
     l) É o problema puramente utilitário de facilitar a necessidade crescente de comunicação no seu sentido mais elementar.
    2) Uma língua auxiliar internacional deveria servir como uma ampla base para todo tipo de entendimento internacional, o que significa evidentemente, em última análise, todo tipo de expressão do espírito humano que ultrapasse interesses locais, o que por sua vez redunda em incluir toda e qualquer sorte de interesses humanos.”    
POR QUE NÃO USAR O INGLÊS?
    Sapir afirma que há uma parcela de ilusão ao se propor o inglês como língua internacional e afirma que o “o espírito moderno não se dará por satisfeito com uma língua internacional que apenas estenda as imperfeições e os provincianismos de uma língua em detrimento das outras” e analisa a atitude de inconformismo de outros povos diante da expansão ou imposição de uma língua nacional que não é a sua, salientando que “a psicologia de uma língua que se impõe ao indivíduo por força de fatores que escapam ao controle dele, é muito diferente da psicologia de uma língua que se aceita por livre e espontânea vontade”. Sapir afirma também que “A criação comum exige o comum sacrifício, e talvez não seja argumento dos mais fracos, em favor da língua internacional, o fato dela ficar, pelo menos na aparência , igualmente fora das tradições de todas as nacionalidades.
    A dificuldade comum em aprendê-lo dá-lhe um caráter impessoal e se faz calar o ressentimento que nasce da rivalidade.” Por outro lado, Sapir analisa que nem o francês, nem o latim, envolvidos em questões nacionalistas e religiosas foram soluções definitivas para o problema da comunicação internacional, que o problema não foi inteiramente resolvido e menciona que não há razões para acreditar que o inglês se sairia melhor neste campo, enfatizando que uma língua internacional não pode estar relacionada a nenhum localismo ou nacionalidade. “A atitude de independência, em face de uma língua artificial que falantes de todas as nações terão que adotar, é em verdade uma grande vantagem, porque concorre para o homem se sentir dono da língua em vez de seu escravo.
    O acatamento geral a uma forma de expressão que não se identifica com nenhuma unidade nacional, provavelmente há de ser um dos mais poderosos símbolos da liberdade do espírito humano que o mundo jamais conheceu”, afirma Sapir e acrescenta que na medida que nações orientais ganham destaque e importância no mundo moderno, fica mais difícil impor um idioma nacional como o inglês ou o francês. Sapir cita uma outra vantagem de uma língua planejada sobre as línguas nacionais: “É a abolição do receio, no uso público, de uma língua que não é a nativa do falante” analisando que os nativos que se arvoram em guardiões da língua se sentem numa situação privilegiada e superior ao passo que aquele que tenta falar uma língua que não é a sua língua materna fica numa situação muito inferior perante o nativo. Resumidamente, Sapir afirma que “Uma língua internacional, bem construída, é muito mais fácil de se aprender que quaisquer línguas nacionais, aguça a perspicácia do indivíduo na estrutura lógica da expressão, de uma maneira que nenhuma destas outras faz, e põe o indivíduo na posse de uma grande soma de material léxico, que poderá ser útil na análise da própria língua do falante e na maioria das outras que ele possa aprender”.

Fonte: Livro "Lingüística como Ciência" - Editora Acadêmica edição de 1969

Nenhum comentário: