quarta-feira, 11 de julho de 2007

A PROPOSTA POLÍTICA RELIGIOSA E IDEOLÓGICA DA LIGA BRASILEIRA DE ESPERANTO

O movimento esperantista pode ser dividido em duas partes: antes e depois da Internet. Antes da Internet, os caciques ou xerifes do movimento em prol do esperanto transformaram o movimento esperantista numa espécie de oligarquia que, de maneira autoritária manipulavam os jornais e revistas do movimento sempre impondo idéias conservadoras e reacionárias. Agora com a Internet é diferente, porque a livre circulação de idéias é assegurada e instituições como a Liga Brasileira de Esperanto, não podem mais ter o monopólio da informação através de revistas como a “Brazila Esperantisto (BE)”.
Carlos Andrade Pereira reconhece na revista BE que “alguns esperantistas temem o território muito livre da Internet, onde as pessoas, ao que parece, têm o mesmo poder, onde a autoridade não se encontra no título, idade ou cargo, mas nas idéias dos esperantistas”.
Aproveitando esta liberdade SEM PRECEDENTES que não teria na revista BE vou tecer algumas considerações sobre como eu vejo proposta política da Liga Brasileira de Esperanto, analisando a ideologia subjacente nos artigos da revista BE, órgão da Liga.
“O MUNDO NÃO SABE QUE O ESPERANTO EXISTE PORQUE A GENTE NÃO SABE DIVULGAR”
O movimento esperantista é um paradoxo: temos uma língua que tem um caráter subversivo e revolucionário, mas temos uma “ONG” (a Liga) que é conservadora e reacionária. A maioria dos falantes do esperanto no Brasil, muito conservadores e religiosos, se recusam a reconhecer que o esperanto é uma língua que vai contra a ordem político-lingüística mundial, e sua popularização significaria uma revolução econômica pois estamos falando no destino de milhões de dólares que deixariam de ser canalizados para alguns países, grupos econômicos e classes sociais e seria dirigido para outros “bolsos”. Estamos falando que milhões de pessoas que vivem do ensino do idioma do país imperialista do Norte teriam que mudar de profissão ou aprender outra língua se a atual política lingüística mundial fosse alterada.
Mas os esperantistas preferem não entrar no cerne da questão de que o esperanto não é uma língua neutra e que o problema da paz não será resolvido APENAS com uma mudança na política lingüística mas sim com uma melhor distribuição de riquezas no mundo.
Então a Liga comete um erro terrível ao acreditar que a omissão sobre o esperanto no mundo parte de causas internas do movimento esperantista (“não divulgamos o esperanto com eficiência) e não de causas externas (o esperanto é um idioma libertário e perigoso que representa uma ameaça aos donos do poder no mundo).
Neste caminho parte o Incrível Exército Brancaleone numa cruzada, “num plano ambicioso(?)” proposto pelo presidente da Liga, Licio de Castro para o objetivo de "colocar o esperanto nas ruas".

MANIQUEÍSMO E INGENUIDADE: OS VERDADEIROS E OS FALSOS ESPERANTISTAS – “OS HOMENS INTELIGENTES RECONHECERÃO O ESPERANTO”
Segundo Alberto Flores (BE), os “verdadeiros” esperantistas, nunca param de trabalhar pelo esperanto. Ele acredita que existe um “sentimento fraterno” que é a alma do esperanto, e que nunca morre”, e que o esperanto é um “ideal nobre” e “uma ponte de amizade entre os homens. Com muita ternura e pouco objetividade ele acredita que “devemos ter “fé” e “trabalhar” porque certamente “os homens inteligentes de todo o mundo reconhecerão o valor e a utilidade de nossa bela língua”. Fica assim criado um maniqueísmo onde há verdadeiros e falsos esperantistas. Ingenuamente devemos esperar que os homens “inteligentes” reconheçam o esperanto. Não lhe passa pela cabeça que o nosso movimento é uma luta política coletiva em prol de uma nova política lingüística mundial.

O CAPITALISMO E A IGREJA HOMARANISTA: ASSIM O ESPERANTO VENCERÁ!
John Lennon tinha um sonho: um mundo sem religiões e sem países. Mas num mundo onde os religiosos se matam em nome de Deus, a postura da Liga através da revista BE é que a “vitória final” do esperanto passa pelo uso do mesmo pelas seitas ou religiões cristãs ocidentais. O público alvo da Liga são os espíritas, mas para dissimular um pouco faz acreditar que quer divulgar o esperanto entre católicos e evangélicos. Isto pode ser confirmado no boletim “A Semente” (este nome lembra a parábola do semeador da Bíblia) na página 7 e 8.
Fabrício Valle (BE) acredita que já que os capitalistas não usam o esperanto, nós devemos então nos tornarmos os capitalistas (empresários) e então usar o esperanto. Devemos ser discípulos de Bill Gattes, segundo Fabrício. Neste caso teríamos que primeiro mudar de classe social, deixar de sermos trabalhadores para ser capitalistas, deixar de sermos oprimidos para sermos opressores.
“Devemos ser pragmáticos”, afirma ele, que acredita que devemos conciliar as idéias ingênuas da Igreja Homaranista (uma seita que existe dentro do esperanto) com a aplicação do Esperanto até mesmo no capitalismo selvagem.
AS RELIGIÕES NA decadente civilização cristã-ocidental!

Afonso Soares (BE) acredita que neutralidade existe e ela consiste no respeito à todas idéias não-neutras. Na realidade, neutralidade política não existe (pode haver sim neutralidade partidária). Quanto às religiões, este tema deveria ser “estranho” ao movimento esperantista, porque nós somos apenas um movimento por uma nova ordem lingüística mundial. Se fosse o caso deveríamos dar atenção ao Islamismo que é a religião que mais cresce no mundo e não à nossa decadente civilização cristã-ocidental.

LIGA BRASILEIRA DE ESPERANTO S/A: É POSSÍVEL MELHORAR O CAPITALISMO! O CAPITALISMO VAI AJUDAR O ESPERANTO!
A meu ver, a definição abaixo sobre no que pode se transformar uma ONG se encaixa perfeitamente no caso da Liga. A ideologia da Liga está implícita de forma subjacente nos artigos da BE quando se afirma que através da “atitude empresarial” dos esperantistas, o esperanto vencerá:
“As ONGs muitas vezes alimentam fortes distinções entre os especialistas e os dirigentes no topo, e o membro comum. Os membros muito freqüentemente apenas participam no sentido mais irrisório, são pouco encorajados a se informarem e a tomarem iniciativa, sendo tratados como fonte de dinheiro que é contatada apenas como parte de uma campanha para levantar fundos. Os escritórios centrais das ONGs normalmente seguem padrões hierárquicos, indistinguíveis daqueles das corporações transnacionais. A maioria delas considera que o capitalismo é reformável, e normalmente se descrevem como organizações que trabalham para ajudar o atual sistema sócio-econômico a superar seus problemas ecológicos e sociais e a seguir mais suavemente. Aspectos de tal estratégia incluem uma tendência a assumir o manto de "legítima" voz, sem hostilidade ao governo, e uma dependência da mídia capitalista. “